sexta-feira, 15 de abril de 2011

Capítulo 3: 1ª DIA EM DARTMOUTH

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4ª FASE
Capítulo 3: 1ª DIA EM DARTMOUTH



Bella PDV


Os motoqueiros pareciam esperar apenas por um movimento de Vincent, uma ordem silenciosa para atacar. Quão patéticos eram! Mesmo preocupada com o líder, não consegui tirar meus olhos de Lucy. Se era para bater em alguém, ela, com certeza, ia ser a primeira a ver estrelas! Sorri, adorando a idéia.

Nesse momento, o som alarmante de sirenes nos fez olhar, todos, para a mesma direção.

– POLÍCIA! – Algum covarde gritou e isso foi o suficiente para a histeria se manifestar entre os estudantes.

Não me admirou, a polícia local já saber do racha. A cidade era um ovo, ora bolas!

– Ainda não terminei com vocês! – Vincent apontou o dedo para nós, antes de sair correndo com sua gangue.

O som de vários motores rugindo deixou-me atordoada. Com a correria, pessoas esbarrando em mim, não soube o que fazer. Estava mais preocupada em conseguir me manter de pé. Aquilo até me lembrou o arrastão na casa dos hermanos.

Olhei em volta e nem sinal dos babacas que estavam comigo. Podia jurar que ouvia o grito de Alice me chamando, mas não consegui vê-la em meio ao tumulto. O som das sirenes aproximando-se, me fez despertar.

MERDA!

Comecei a correr como todo mundo e, nesse momento, o ronco de um motor conhecido me fez estagnar.

– BELLA! – Chamou Edward.

Não havia o que pensar. Fui até ele, subi na moto e o Cullen arrancou.

Enquanto ele desviava de carros e motos, em manobras arriscadas, tentei olhar para os lados, na expectativa de achar as garotas.

– Cadê todo mundo? – Berrei.

– Eu não sei! – Respondeu ele.

Edward subiu uma calçada para ganhar tempo, pois a via principal estava praticamente engarrafada. Todos estavam fugindo por ela. Temi que batêssemos em algo. No cruzamento, o aglomerado de veículos se desfez. Ele pegou a via esquerda, deixando para trás o alvoroço e já não podíamos ouvir o som das sirenes.

EDZINHU deu algumas voltas nas proximidades do nosso bairro, só para garantir que era seguro voltar para casa.

Ele me acompanhou quando entrei no apartamento das garotas. Sobressaltei com a cena à minha frente.

Os Cullens e as meninas estavam petrificados, olhando para a sala bagunçadíssima. Comida espalhada pelo chão, vasos quebrados, revistas jogadas, cortinas rasgadas. Estremeci, tentando formular a pergunta que meus lábios eram incapazes de pronunciar.

– O que aconteceu? – Meu namorado questionou.

– Fantasma. – Murmurou o bisonhento, pálido.

– Nós acabamos de chegar e encontramos a casa inteira revirada. Ninguém pode ter entrado aqui. A porta estava fechada. – Alice balançou a cabeça, atônita. A única coisa que me consolava era vê-la segurando o capacete com a minha grana. Entre mortos e feridos, salvaram-se todos.


(...)


# 08:00 am #


Meu primeiro dia em Dartmouth. Estava animada. Tive uma rápida entrevista com o reitor e falei exatamente o que ele queria ouvir. Até me fingi de boa moça. Minha primeira aula era de História da Música.

Demorei um pouco para achar o prédio e a sala certa. Aquele campus era muito maior do que eu imaginava.

Ainda não havia iniciado a aula quando adentrei à sala. Subi os degraus para me sentar em uma das últimas carteiras.

Larguei os livros e tratei de analisar o ambiente. Havia muitos manés com cara de CDF. Não esperava encontrar roqueiros ali, afinal, o Curso de Música é quase todo teórico, e estudaríamos muito sobre música erudita. Ainda assim, tinha esperança de encontrar alguém legal para me socializar.

Uma garota de sorriso metálico começou a distribuir panfletos pela sala. Um deles chegou até mim. O peguei e li.


[Calourada sexta à noite na irmandade UMass. Leve cerveja!]


Desinteressada, amassei o papel e o coloquei no bolso do casaco para jogar fora, assim que possível.

O rapaz de boné, sentado à minha frente, sem olhar para trás, me estendeu um panfleto.

– Já tenho um. – Reagi automaticamente.

Ele chacoalhou o papel, insistindo.

OTÁRIO!

Tomei o panfleto de suas mãos, aborrecida.

Estava me preparando para amassá-lo, porém, o rabisco contido ali me chamou a atenção.


[Eu + Você + Cinema + Calourada = Sexta às 20:00!]


QUALÉ!

– Não posso ir, obrigada. – Murmurei em direção ao desavisado. Alguém precisava preveni-lo sobre minha má reputação.

– Por que não? – Perguntou ele, virando-se para mim.

– Ah... não! – Revirei os olhos ao constatar que o desavisado era Vincent.

– O que está fazendo aqui? – Tudo bem, sei que a pergunta não foi muito inteligente.

– É minha sala... vou estar aqui o ano todo. – Deu um largo sorriso.

– Me dá seu endereço! – Apontou para o folheto ainda em minhas mãos.

– Que parte do NÃO POSSO IR OBRIGADA você não entendeu? – Usei meu melhor tom rude.

O professor chegou à sala de aula, chamando nossa atenção. Vincent e eu fomos obrigados a encerrar a conversa ali. Me senti grata, pois não estava a fim de ficar de papo com o playboy.


# 09:30 am #


Fui até o banheiro feminino, com o intuito de fugir um pouco dos alunos que me encaravam de forma estranha. Não entendia o porquê dos cochichos. Era o meu primeiro dia ali, caramba! Sentia-me acuada, como se estivesse no colégio de Forks, onde minha má reputação repelia quase todos.

Uma garota entrou no banheiro e ficou do meu lado, com olhos vidrados no espelho, retocando a maquiagem.

– Olá, Bella. – Disse ela, gentilmente.

Fitei-a, perplexa. Como aquela criatura sabia meu nome?

– Desculpa... Eu te conheço? – Ergui as sobrancelhas.

– Tudo bem. – Ela pôs a mão no meu ombro. – Relaxe, meu irmão tem o mesmo problema. Além do mais, olha que coisa boa: o aviso te colocou no mapa, agora todos sabem quem é. Até Vincent Carter está interessado em você. Querida, boa sorte. – Ela saiu antes que eu pudesse reagir.

Chocada, me arrastei para fora. Fui ao bloco 9, a fim de encarar outra aula. No corredor, passei por um grupinho que ria em frente a um quadro de avisos. Minha curiosidade foi atiçada.

– Olha ela lá! – Apontou para mim, um cara cheio de espinhas.

Sem entender, olhei o quadro e quase tive uma síncope. Ali tinha um folheto com uma foto minha fazendo careta e, embaixo, um aviso.


[Esta aluna: Bella Swan é portadora da síndrome de Tourette. Mantenha uma distância segura.]


Síndrome de Tourette? Não é aquele troço que faz as pessoas terem tiques nervosos e falarem palavrões compulsiva e involuntariamente?

Dei outra olhada na minha careta pavorosa na foto.

– CACETE! – Suspirei.

O palavrão não contido fez o grupo próximo a mim, cair na gargalhada.

Arranquei o folheto em vão. Pelo que a moça no banheiro me falara, minha nova reputação já tinha se alastrado por Dartmouth. Que imbecil faria um trote ridículo desses?


# 10:30 am #


Estava concentrada na partitura diante de mim, enquanto a professora tentava nos ensinar como lê-la. Um aviãozinho de papel chocou-se contra minha cabeça. Irritada, olhei para trás e o retardado do Vincent sorria, acenando.

Peguei o aviãozinho, desdobrei e o li, enfurecida.


[Já sei sobre você e o Edward. Não sou ciumento. Vamos sair?]


Amassei o papel e, sem olhar para trás, ergui a mão esquerda, exibindo o dedo médio. Tinha certeza que ele entenderia o recado através do gesto obsceno.


# 11:45 am #


O refeitório de Dartmouth estava hiper lotado. Fiquei na ponta do pé, na esperança de avistar Alice ou alguém conhecido. Então...

– BOO! – Sobressaltei com o grito ao pé do meu ouvido. Virei-me, pronta para descer o braço na futura vítima e me surpreendi ao dar de cara... com quem? Vincent!

– Você é retardado? – Perguntei na lata.

– Vai começar a xingar agora? – Riu prepotente. – Bella Swan Síndrome de Tourette.

– O tique está vindo, posso sentir! Vai ficar para ouvir a rajada de palavras de baixo calão? – Me senti inteligente, usando o boato para me livrar do babaca.

– Fala sério! Alguém só está te passando um trote. – Piscou o olho. – Vamos sentar com minha galera. – Puxou meu braço direito.

– Ela não vai! – Outra pessoa puxou meu braço esquerdo e... adivinha quem era! Edward!

– Vamos, Bella! – O playboy insistiu, puxando-me.

– Ela não está interessada. – EDZINHU repuxou.

Fiquei cambaleando de um lado para o outro, até que não suportei mais.

– PÁRA, CACETE! – Berrei.

O palavrão chamou a atenção dos alunos que riram, confirmando o boato de que eu era anormal. PERFEITO!

Deixei Edward e Vincent se encarando, enquanto me direcionava à mesa onde estavam os Cullens e Alice. Não porque era onde meu namorado queria que eu estivesse, não pretendia deixá-lo ainda mais metido e sim, porque ali estavam as únicas pessoas que eu conhecia em Dartmouth.


# 12:46 pm #


Bocejei, tentando concentrar-me na aula chata. Quase gritei de raiva quando Vincent, atrás de mim, chutou minha carteira.

O playboy era um típico garanhão, minha recusa em sair com ele devia estar divertindo-o muito. Sem perceber, tornei aquilo, para ele, um jogo interessante, pois, as mulheres, assim como a vida, eram muito fáceis para aquele tipinho.

O maldito chutou a carteira outra vez. Irada, voltei-me para ele e falei:

– Tudo bem, saio com você!

– Beleza, gata! – Animou-se, já escrevendo seu número de telefone em um papel. – Te pego amanhã, então.  

Não gostei do duplo sentido! Guardei o número e voltei meus olhos para o professor.

Vincent Carter não sabia onde estava se metendo, não tinha idéia do que eu era capaz. Faria ele ter o pior encontro de toda a sua vida. O estúpido ia terminar a noite chorando num canto de parede, feito uma criança pequena. Após sexta à noite, ele fugiria de mim e me deixaria em paz o resto da vida.

Sorri, satisfeita.

No meio da aula de teoria musical, meu celular vibrou. Disfarçadamente, o tirei do bolso dianteiro da calça e dei uma olhada no visor.


[Mensagem 12:50 PM

Alice: Emergência/Delegacia]


Meus olhos saltaram pra fora e, por pouco, não gritei um “WOW”.

Como Alice conseguiu ser presa? O incidente do racha logo passou pela minha cabeça. Precisava ir ao encontro dela.

– Prof! – Ergui a mão, sorridente.

– Senhorita, me chame de Sr. Addams. Não estamos no ginásio. – Resmungou.

Fiz careta para o rabugento de gravatinha borboleta.
– Tipo assim... família Addams? Porque eu realmente te achei a cara do tio Chico. – Sorri, querendo agradar.
 Os alunos riram do meu comentário e ele não gostou.

– Qual seu nome, Srta.?

– Swan. – Respondi contra vontade.

O tio Chico se limitou a rabiscar algo em uma prancheta e eu tinha certeza que ia me ferrar.

Revirei os olhos.

– Prof...quero dizer, tio Chico Addams – Coloquei a mão na testa. – Preciso sair, é uma emergência.  

– Que tipo? – Analisou-me, como se escutasse aquilo sempre.

Seria uma boa idéia dizer que minha prima estava na cadeia?

– Familiar... – Tentei ser convincente.

Ele riu alto.

– Oh, claro, Srta. Swan, não quero te atrapalhar, afinal, não estou dando uma aula importante e nem você está atrasada comparada ao resto da turma. Por favor, não se sinta obrigada a ficar... – Virou-se para o quadro, resmungando algo que não entendi.

Dei de ombros, peguei minhas coisas e desci os degraus, correndo.

– Valeu, tio Chico, eu sabia que tu ia entender, cara. – Dei um tapinha amigável nas costas dele, antes de sair.

No corredor, pude ouvir as risadas vindas da sala. Ué? O que eu tinha feito de engraçado? Resolvi ignorar enquanto corria pelo campus, sem saber como chegaria na delegacia, pois minha moto ainda estava na oficina local.

Ao longe, vi outra pessoa correndo em direção a um dos estacionamentos. Pessoa não, animal: Emmett.

Fui ao encontro dele.

– BISONHENTO! – Ele parou, arregalou os olhos e voltou a correr, só que agora, bem mais rápido.

Obriguei-me a aumentar o ritmo.


– FILHO DA MÃE! PÁRA, EMMETT, OU VOU TE MATAR! – A ameaça não o deteve. Minhas pernas estavam ficando sem forças.

O imbecil pulou para dentro do seu jipe. Direcionei-me para a pista onde ele passaria. Ali, o infeliz seria obrigado a parar.

Estaquei ofegante no meio da rua. O carro vinha em minha direção com tudo e, por um segundo, temi que a anta me atropelasse. Fechei os olhos quando ouvi o som do carro freando.

Aliviada, abri os olhos e fui até a porta de passageiro.

– EU JURO QUE NÃO FUI EU! – Berrou, erguendo a mão em defensiva.

– Do que está falando, seu animal? – Irritei-me.

– Hein? – Ergueu as sobrancelhas.

– Cala a boca... – Foquei o que era importante. – Alice está na delegacia. Me leva até lá! – Ordenei, pulando pra dentro do Jipe.

– Ah... – Sorriu, paspalho. – Estava mesmo indo para lá. Recebi uma mensagem.  


Minutos depois...


– O que estão fazendo aqui? – Perguntei enquanto todos os Cullens e Rosalie adentravam, comigo, à pequena delegacia.

– Alice deve ter mandado mensagem para todos. – Jasper respondeu aflito.

– Esconde sua maconha. – Falei, totalmente solidária.

– Alice! – Rosalie quase berrou, dissipando o nervosismo, quando a viu sentada na sala de espera.

– Que bom que vieram. – Disse ela, preocupada.

Jasper a abraçou e eu relaxei.

– Onde é o incêndio? – Perguntei.

– Por favor, venham comigo. – Pediu o jovem policial, indicando um corredor.

O seguimos. Ficamos todos de pé dentro da sala do delegado. Fitei Edward, que já devia estar planejando nos tirar dali. Foda! Eu não sabia que o racha ia nos encrencar tanto.

– Muito bem... Meu nome é Charlie Hill. Sou o chefe de polícia da cidade. – O homem de meia idade e bigode engraçado, virou-se para nós, após desligar o telefone.

Minhas mãos gelaram. Íamos todos ser presos?

– Qual de vocês vai ser responsável pelo... – Olhou rapidamente uma ficha em cima da mesa. – ...Marius Pintolar?

Percebi que o chefe esperava uma resposta.

– O que ele fez? – Indagou Rose.

– Assaltou uma loja. – Respondeu.

Quando dei por mim, estava gargalhando feito uma louca.

Edward cutucou as minhas costas para eu me conter. Tentei, juro que tentei, mas, saber que a bichona tinha entrado pro mundo do crime era algo engraçado demais.

– Meu Deus, como isso aconteceu? – Perguntou Jasper, no momento em que consegui recuperar o fôlego.

– Segundo o testemunho da funcionária da boutique Lux, ele se apossou indevidamente de uma peça e saiu, literalmente, correndo de lá. A funcionária nos contatou. Como eu estava próximo ao local da ocorrência, o persegui por alguns quarteirões e devo enfatizar que o rapaz corre e grita muito. Mas, no final, conseguimos capturá-lo.  

– Atiraram nele? – Os olhos de Emmett brilharam de esperança.

– Não foi necessário. – Afirmou o chefe Hill.

– Ah... – Lamentou.

Encarei os idiotas ao meu lado. EDZINHU relaxou os músculos, cerrando os lábios para não rir. Emmett comia um sanduíche, indiferente. Já a fofolete, o suposto maconheiro e Rose, estavam horrorizados.

– Podemos vê-lo?

– Sim, só que um de vocês vai ter que assinar a papelada. – Ele a jogou sobre a mesa. – E pagar a fiança.  

Alice sussurrou para nós:

– Hora de fazer uma vaquinha.  

– Ah, não! – Emmett esbravejou. – Vamos deixar ele aí. O sem pregas é perigoso. Um dia ainda vamos acordar já mortos e esquadrejados.  

Acordar mortos? Esquadrejados?  Alguém me deixe surda, por favor!

– Pelo amor de Deus! – A sebosa se apossou da papelada.

Minutos depois, o chefe de polícia nos levou até a cela onde Marius estava trancafiado, alegando que o mesmo estava fora de si e que, talvez, nossa presença o acalmasse.

O pequeno distrito só possuía duas celas, praticamente vazias.

Ao contrário do que o chefe Hill informou, a bichona aparentava tranqüilidade.

Pois estava sentado no chão, fitando o vazio, enquanto passava uma caneca de alumínio nas grades e aquilo fazia um barulho irritante. Um pinguço no fundo da cela, tocava uma canção em uma gaita, intensificando o clima triste e solitário da prisão.

– Marius, levante-se! Viemos te tirar daqui. – Disse minha prima.

O viado não mexeu um dedo. O Sr. Hill abriu a cela.

– Vamos, rapaz, saia! – Ordenou.

Ele continuou batendo a caneca nas grades, totalmente alheio.

– Emmett, vá buscá-lo! – Incentivei, rindo.

– O QUE? FUI! – Saiu rapidinho do local.

Edward bufou, entrou na cela, passou o braço do viado por seu ombro e o ergueu, servindo de apoio para o pobre coitado, que continuava a passar a caneca por grades imaginárias.

Fomos para o apartamento da Barbie, a fim de ouvir a versão dos fatos pela boca do próprio Marius. Ele tomou um banho demorado e, finalmente, apareceu enrolado em uma toalha, igual a uma mulherzinha.

– Vou voltar para Dartmouth. – Edward levantou-se do sofá, visivelmente desconfortável com os trajes do pavão.

– Eu também! – Emmett, enojado, disse, arrastando o irmão maconheiro consigo.

Pensei em pedir uma carona. Olhei pro relógio, dando-me conta de que ainda tinha uma hora antes da última aula, então, resolvi ficar por lá e me divertir mais um pouco às custas da miséria alheia.

– Marius, nos conte logo o que aconteceu! – Alice pediu, impaciente.

Cruzei os braços, interessada. O maluco foi até uma das sacolas que estavam na mesinha de centro e, de lá, puxou a tenebrosa saia feita com penas de pavão, a qual havia me mostrado, no outro dia.

– Acharam que roubei isso!

– Como assim? – A loira burra não entendeu... ok...eu também não.

Respirou fundo, então, começou a tagarelar em voz alta.

– Fui na boutique ralé e, na vitrine, vi minha saia. MINHA! Não tive escolha, saí correndo de lá com ela. Nem morta que ia deixar minha obra prima na mão da mundiça. – Enrolou uma mecha de cachinho com o dedo.

– Fumou unzinho na cadeia? – Perguntei, confusa.

– AAAAAAAHHHHHH! – Marius bateu o pé no chão, nervosa e possuída. – SUAS RAXAS BURRAS, FOMOS ROUBADAS! COPIARAM NOSSOS MODELITOS! ESTÃO TODOS SENDO VENDIDOS NA LUX!

Fofolete e Rosalie se colocaram de pé, revoltadas.

– Não pode ser! – Disse minha prima, triste.

– Ah, não... ralamos para criar essas peças! – A loira burra começou a andar de um lado para outro.

– É uÓ! Gente uÓ total! Isso é espionagem de alta costura. Precisamos fazer algo! – O viado botou mais lenha na fogueira. – Em menos de uma semana, nossa loja estará pronta para a inauguração e não temos nenhum lencinho exclusivo pra vender. Eu quero morrer! – Se jogou no meu colo.

Empurrei-o com força e o maldito caiu de quatro no chão.

– Precisamos agir, não vamos deixar isso barato! – Rosalie mantinha uma expressão determinada.

– As costureiras que contratamos em Manchester devem ter sido as culpadas, elas, certamente, venderam nossas idéias para o dono dessa tal de Lux.  

– Vamos nessa loja, eu preciso ver com os meus próprios olhos. – Minha irmã estava furiosa.

– Eu vou também. – Falei sem crer no que acabara de sair da minha boca. – Afinal, quem vai chamar os Cullens para pagar uma nova fiança? – Enruguei a testa.

Pouco tempo depois, Rosalie estacionou seu carro em frente à loja. Fui uma das primeiras a sair, louca para ver um barraco.

Atravessamos as portas de vidro e, assim que colocamos os pés dentro da Lux, minha prima saiu correndo em direção a um manequim. Não precisava entender de moda para sacar que aquela peça havia sido desenhada por ela.

– Em que posso ajudá-las? – Perguntou um afeminado com um longo cabelo loiro, gordinho, com um cachecol enrolado no pescoço.  

Marius, que mantinha-se atrás de mim, escondendo o rosto safado com grandes óculos escuros, cutucou minha irmã, que disse:

– Você é o dono da boutique?

– Sim, meu amor, a primeira e única. Me chamo Max. – Sorriu, orgulhosa.

– Quem é o estilista? – Ela continuou o interrogatório.

– Eu, gata. Tudo isso é meu! – Abriu os braços, girando. – Vai comprar?

– BEM DOIDA! – Marius esbravejou, jogando os óculos no chão. – Eu conheço pistoleiras da tua laia, sua bicha de megahair mal feito! – Empurrou a mim e Rose, abrindo passagem pra encarar a colega de irmandade.

– Que é isso? – Max colocou a mão no peito, pasma. – Quem soltou a cachorra raivosa?

– Você roubou nossos modelitos! – Acusou Alice, segurando um vestido.

– Não sei do que estão falando! – Ele jogou o cabelo pro lado. – Saiam da minha loja!

– PÁRA! PÁRA! PÁRA! – O pavão colocou as mãos na cintura. – Que viado uÓ! Pense numa mequetrefe! Tu quer que eu arranque esse teu megahair todinho, desgraça? Se tu pensa que eu vou deixar barato, está é muito E-N-G-A-N-A-D-A!

– SEGURANÇAAAAAAAAAAAAAS! – Berrou a ladra.

Imediatamente, apareceram dois armários e eu percebi que a coisa ia ficar feia.

Marius, para a surpresa de todos, puxou a bolsa das mãos de Rose e deu uma bolsada firme na cara da bicha loira.

Definitivamente, ele tinha a quem puxar.

A dona da loja cambaleou tonta com a porrada. Os seguranças vieram para cima de nós.

– CORREEEEEEEEEEEE, RAXAS! – Gritou o pavão.

Foi exatamente o que nós fizemos. Marius começou a distribuir bolsadas. Isso foi o suficiente para distrair os seguranças, e nós fugimos.

As garotas e eu nos metemos dentro do carro num piscar de olhos, temendo que fôssemos dar outro passeio na delegacia.

– Pisa fundo, Rose! – Disse Alice.

Rose acelerou e nos distanciamos da loja.

– ME ESPEREEEEEEEEEEEM! – Ouvi o grito ao longe.

Eu, que estava no banco de trás, virei-me, só para dar de cara com a bichona, correndo no meio da rua atrás de nós, desesperada. Os seguranças o perseguiam.

XI! HAVÍAMOS ESQUECIDO DELE!

Minha irmã freou para que o lunático pudesse nos alcançar. Abri a janela do carro e, colocando a cabeça para fora, gritei:

– CORRE, VIADO! CORRE! VÃO TE PEGAR!

Com as mãos balançando no ar e ainda segurando a bolsa, o esquisito chegou até nós. Não esperou que eu abrisse a porta. Lançou o corpo magro pela janela, caindo por cima de mim. Da cintura para cima, ficou dentro da BMW e suas pernas chacoalhavam do lado de fora.

– Vai, Rose, Vai! – Ordenou a fofolete e minha irmã voltou a acelerar.

Partimos com metade do Marius do lado de fora. Ele berrava, assustado, pedindo socorro.


# 02:50 am #


Revirei-me no sofá, impaciente. Fechei os olhos com toda força, tentando me obrigar a dormir. Ainda assim, isso não foi suficiente. Sentei, me dando por vencida. Aquela ia ser uma noite de cão.

Fui até a cozinha, bebi um copo de água e só conseguia imaginar se Edward estaria dormindo.

Burra! Burra!

Gritei mentalmente.

É lógico que estava! Voltei pra sala, desanimada. A brisa fria que adentrou as janelas, fez o resto das cortinas dançarem, levando minha memória à Verona, onde o Cullen e eu nos apaixonamos, embora não tivesse certeza de seus sentimentos por mim. Estava ali pra fazê-lo enlouquecer de paixão, porém, talvez isso nunca acontecesse.

O pensamento foi o suficiente para mexer com as feridas do meu coração, causando uma dor que eu evitei à todo custo.

Encarei a porta da frente, tensa. E se eu fosse até lá? E se, por algum milagre, ele estivesse assim como eu, necessitada de braços calorosos e beijos ardentes?

Pus as mãos no rosto, buscando encontrar coerência entre meus objetivos e os desejos da minha alma.



Edward PDV


Desliguei a TV, cansado de tentar distrair-me. Fiquei de pé, largando o controle remoto no sofá. Alonguei os braços, estalando as juntas. Odiava ficar feito um zumbi pela madrugada. Tudo o que eu queria era que minha mente tivesse um botão de “pausa”. Ela conspirava contra mim, fazendo-me lembrar de Bella a todo minuto.

Passei as mãos pelos cabelos, imaginando o que ela estaria fazendo. Provavelmente, dormindo tranqüila e, não, perambulando pelo apartamento como eu.

Liguei para minha mãe mais cedo e tentei lhe interrogar sobre a pirralha. Infelizmente, ela não tinha nenhuma informação. Esme limitou-se a dizer que tudo daria certo no tempo propício. Praticamente, desligou o telefone na minha cara. Sentia que havia algo estranho em sua voz. Típico de quando ela me esconde coisas.

Estava ficando cada vez mais preocupado com o futuro do meu relacionamento com meu frango. Ver ela com Jake me fez odiar momentaneamente os dois. Ela precisava mesmo aceitar carona dele? Pior! Tinha que ir vestida daquele jeito, toda se exibindo? A imagem gravada na minha mente fez meu punho cerrar de ciúme. Eu não era do tipo ciumento, mas ver os babacas de Dartmouth secando-a, em especial, Vincent, me deu vontade de esmurrar cada um deles.

Liberei o ar dos pulmões, antes que minha cabeça explodisse.

Contei de 1 até 10, recuperando o controle.

Mentira!

Saí do apartamento, disposto a ameaçar Swan. Se ela aprontasse novamente, telefonaria para Carlisle e a delataria, até que ele a proibisse de sair de casa.




No corredor diante da porta dela, estagnei, tendo um surto repentino de racionalidade.

A quem eu estava enganando? Se eu fosse ameaçá-la, ela iria repetir o ato de exibição só para me contrariar. Isso fazia parte de sua personalidade, adorava tirar todos do sério. Além disso... eu estava apenas seguindo meus instintos comandados pelo SAD. Todo meu argumento era uma desculpa patética de vê-la. Coloquei a mão na madeira, desejando tocar minha Bella.



Bella PDV


Coloquei a mão na maçaneta, pronta para girá-la e acabar com meu tormento e necessidade de estar próxima à Edward. Infelizmente, não tive coragem para tal.

Uma batalha interior era travada, enquanto colocava a mão esquerda na madeira.

Queria tanto que não houvesse milhões de questões entre nós. Só queria poder beijá-lo, sem explicações, sem ressentimentos, sem ter que me preocupar em arriscar meus planos.



Edward PDV


Por alguma razão, continuava a acariciar a porta. Devia estar ficando mais louco a cada minuto. Tentei afastar todos os desejos de beijar a pirralha. Em vão, porque quanto mais me esforçava, mais almejava seus lábios trêmulos contra os meus.

DROGA, VOCÊ NÃO PODE TÊ-LA!



Bella PDV


DROGA, VOCÊ NÃO PODE TÊ-LO!    

Gritei mentalmente.

Meus dedos deslizavam pela madeira por vontade própria, como se um imã os atraísse. Até podia sentir a intensidade da atração, todo meu corpo era impelido por uma força desconhecida.

Aqueles desejos reprimidos deviam estar mexendo com a minha cabeça.



Edward PDV


Eu já não conseguia puxar minha mão de volta. E o meu corpo queria se colar àquela porta. Por que, Deus?

Engoli seco, tentando me afastar dali, mas o meu íntimo não queria. Por mais insano que aquele momento estivesse sendo, ali, no corredor, estava sentindo a angústia e saudade finalmente serem aplacadas, após tantas semanas.



Bella PDV


Não pira, Bella! Não pira!

Precisei usar todas as minhas forças pra me afastar da maldita porta.

Cambaleie para trás, confusa e ofegante.



Edward PDV


A sensação de paz, apesar dos conflitos em minha mente, subitamente, desapareceu. Dei um passo atrás, puxando a mão.

Obriguei-me a voltar pro meu apartamento. Fechei a porta, sem conseguir tirar a mão da maçaneta. O que era agora? Ia passar a noite naquele sofrimento? Já começava a odiar aquele corredor.



Bella PDV


Tive vontade de chutar a mim mesma quando me vi novamente agarrada à maçaneta. Quanto tempo ainda ia ficar naquela indecisão?

EU PRECISO DE AJUDA!

Choraminguei.

Tudo bem... tudo bem! No momento que você abrir essa porta, vai ver que o apartamento de Edward está fechado, assim como todas as possibilidades de ficar com ele no momento. A frustração vai trazer sua sanidade de volta.



Edward PDV


Ok, Edward. Quando abrir novamente essa porta, vai se sentir um idiota ao encarar o corredor vazio e silencioso, talvez isso te faça lembrar que deveria estar dormindo como todo mundo. Perceberá que o que aconteceu há pouco foi uma mera alucinação.

Acho que é hora de procurar ajuda médica!

Suspirei, girando a maçaneta.

Nervoso, obriguei-me a contar até três, antes de puxá-la.



Bella PDV


Me preparando pra decepção, contei até três, antes de abrir aporta.

1...



Edward PDV


2...



Bella PDV


3.

Abri a porta com força.



Edward PDV


Abri a porta com força e arregalei os olhos ao ver Bella de pé, a poucos metros de mim.

Bati a porta, dando-me conta de que estava ferrado. Iria procurar um psiquiatra, precisava de medicação da pesada!



Bella PDV


Bati a porta sem crer que acabara de ver o Cullen. Aquele apartamento mal assombrado devia provocar miragens. Afinal, quais as chances de, às três da manhã, ambos tentarmos sair de casa ao mesmo tempo?

Passei a mão na testa, livrando-me das gotículas de suor.

Mas... E se ele realmente estivesse lá? Olhando para mim? Meu estômago embrulhou com a idéia. Só havia um modo de solucionar a questão.



Edward PDV


Eu não posso estar louco. Não pode ser! E se Bella realmente estivesse saindo de casa?

DROGA, IMBECIL! Você não vai ter paz se não souber se é uma alucinação ou não.

Abri a porta e lá estava ela, parada, na entrada do seu apartamento.



Bella PDV


Lá estava ele. Edward Cullen, parado feito uma estátua, segurando a maçaneta.

Ele parecia agitado demais para uma ilusão, dava para ouvir o som frenético de sua respiração... embora, começasse a acreditar que o som vinha de mim.



Edward PDV


A pirralha piscava os olhos, confusa. Quase sorri ao perceber que eu não estava tão louco quanto imaginava. A garota à minha frente era real.

A vontade de agarrá-la manifestou-se suprema, dentro de mim, liberando todo o amor reprimido. Eu era fraco e dependente demais para resistir.



Bella PDV


Sentia-me dominada pela visão do homem à minha frente, eu queria cada minúsculo pedaço dele junto a mim. Se eu não o tocasse, morreria de desgosto. Estava 100% dependente.

É, estou ferrada!

– Não vamos falar sobre isso. – Mumurei, projetando-me para o meio do corredor.

– Nunca! – Respondeu, com seu corpo chocando-se contra o meu, em um abraço forte e incandescente.


(Continua...)

***
Próximo Capítulo Aqui!

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